Para pensar:

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Mario Quintana

terça-feira, 24 de junho de 2014

“Quem Ri por Último Ri Melhor” é atração no Teatro Brasil Kirin

Leo Aversa
Andy Warhol profetizou que ‘um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama’.  Em um mundo repleto de BBBs e afins, este momento parece ter chegado, trazendo consigo uma nova questão: como se manter no topo? É sobre esses tempos de vale-tudo para conquistar e seguir sob os holofotes, onde a aparência se sobrepõe à essência, que se debruça Quem Ri por Último Ri Melhor, texto do escritor americano Douglas Carter Beane, indicado ao Tony em 2007. Um olhar ácido sobre o tema, que conjuga com o pensamento de Nietzsche, “quando o reconhecimento de muitos por um único afasta qualquer pudor, nasce assim a fama”. Com direção de Cininha de Paula e Danielle Winits, Júlio Rocha, Rainer Cadete e Sara Freitas no elenco.
Danielle Winits interpreta Dione, papel que deu o Tony de melhor atriz a Julie White. Famosa agente de atores, ela procura manter em evidência seu pupilo, o astro de TV Mateus (Júlio Rocha), mas precisa ainda proteger a imagem do galã, escondendo sua sexualidade. O problema se agrava quando Mateus conhece Alex (Rainer Cadete), um garoto de programa e os dois se apaixonam. O próprio Alex, contudo, não tem certeza das suas escolhas, pois tem uma namorada, Helena (Sara Freitas). Esta relação faz Mateus repensar suas escolhas, e uma teia de mentiras, sombras e aparências fica prestes a se romper.
O espetáculo traz uma série de dilemas morais e éticos, flagrando os personagens em um momento no qual são obrigados a se confrontar e descobrir sua essência. “O que mais me atrai na história são justamente essas amarras pessoais e sociais que criamos e que acabam por nos impedir de perseguir aquilo que verdadeiramente desejamos”, explica Cininha.  “É um tema muito contemporâneo, onde os anseios atuais são colocados em xeque: de um lado da balança, o desejo por um grande amor, uma grande paixão; do outro, a luta por um sonho, uma carreira, ou o desejo de enriquecer – em tempos atuais parecem ser a mesma coisa –, que são vontades que parecem não poder se conjugar mais”, complementa a diretora.
O texto desvenda os bastidores do show business e discorre sobre os meandros e artifícios na busca pelo sucesso. A ação se passa no Rio de Janeiro. “A peça expõe comportamentos contemporâneos. Critica esse universo da fama e do sucesso a qualquer preço. Fala de quanto o homem de hoje é capaz de vender seus princípios por qualquer cachê. O autor conhece bem o mundo do show business americano, que não é muito diferente lá ou cá”, afirma Xexéo.
A versão brasileira de Artur Xexéo preserva o humor e a acidez original do autor. “Ele tem um humor que nunca é óbvio. É crítico, é irônico e o desafio é não perder essa crítica e essa ironia”, enfatiza Xexéo. Foi também esse viés cômico do texto que instigou Cininha a dirigir a montagem: “o humor tem uma linha mais direta de comunicação com o espectador. Por alguma razão, ele parece chegar mais fundo aos corações, levar mais rapidamente à reflexão e de forma mais sucinta”.
José Dias assina a cenografia do espetáculo, que tem ainda figurinos de Sônia Soares e trilha sonora de Ricardo Leão, em uma realização da MF e Chaim Produções. Embora o texto seja realista, Cininha de Paula acredita que há uma liberdade conceitual que transcende esta definição. “Temos várias ‘quebras’ desse código: os personagens se sabem personagens, como os atores se sabem atores; com exceção do quarto do hotel, os espaços da encenação podem ser/assumir qualquer local, os personagens falam com outros personagens que não estão no mesmo local. Há uma gama de códigos que fogem e quebram os ‘paradigmas’ do realismo”.
O que difere um artista que se vende para fazer sucesso de um garoto de programa que aluga o corpo para sobreviver?  “Mateus e Alex têm mais em comum do que enxergaria um olhar superficial. Talvez só um deles possa despir a personalidade do outro”, pondera Xexéo.  Quem Ri por Último Ri Melhor é uma ampla radiografia de um mundo onde cada vez mais os valores estão invertidos e a ética relativizada.  A ilusão é a grande moeda de troca destes dias. Quem dá mais?

Ficha Técnica
Autor - Douglas Carter Beane
Versão Brasileira - Artur Xexéo
Direção - Cininha de Paula
Elenco - Danielle Winits, Júlio Rocha, Rainer Cadete e Sara Freitas
Cenário - José Dias
Figurinos - Sonia Soares
Trilha Sonora - Ricardo Leão
Assistente de Direção - Gustavo Klein
Produtor Executivo - Edgard Jordão
Produção Geral – Sandro Chaim
Realização – MF e Chaim Produções
Patrocínio: Ministério da Cultura, Vivo e Porto Seguro
Classificação Etária – 14 anos
Duração – 90 minutos

Serviço:
Campinas: 27 a 29 de junho; 4 a 6 de julho
Horário: Sexta e sábado – 21h |domingo – 19h
Teatro Brasil Kirin - 3º piso do Iguatemi Campinas – Av. Iguatemi 777 – Vila Brandina
Telefone: (19) 3294-3166 – www.teatrogt.com.br
Valores:
Inteira: R$70,00
Meia-entrada: R$35,00
Vendas:
Bilheteria do Teatro: 3294-3166 (terça a sábado das 13h às 21h | domingos das 12h às 20h)
Pela internet: www.ingresso.com.br.

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